Memória e justiça racial na cidade de São Paulo.
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O BRASIL É O PAÍS MAIS NEGRO FORA DO CONTINENTE AFRICANO Somos uma nação atravessada econômica, política, social e psicologicamente pela experiência colonial que durou séculos de escravização de africanos, violentamente traficados. A raça foi uma invenção para justificar e concretizar um projeto de dominação. Não existe, portanto, cidadão que não reproduza de alguma forma o racismo que estrutura o capitalismo brasileiro hoje. Por isso, o movimento negro brasileiro tomou a tarefa de se rebelar contra essa estrutura. Desde o desembarque do primeiro africano traficado no país perdura um longo e complexo processo de resistência. Portanto, a problemática da raça é tensionada não apenas pelo racismo enquanto opressão, mas também pelo antirracismo enquanto prática.
SP É SÓLO PRETO E INDÍGENA Dotada de um violento processo de apagamento da memória negra e indígena, a cidade de São Paulo é hoje a cidade mais negra do país, em número absoluto. Vivem aqui mais de 4 milhões de negras e negros, mesmo com toda a politica de perseguição, e tortura que mata e expulsa as populações racializadas cada vez para mais distante. A população negra foi a responsável por subir os prédios da cidade, mas sempre esteve às margens, inclusive nos tempos em que as margens eram o que hoje é o centro. Nossa história e nossos territórios foram embranquecidos. O Quilombo da Saracura, hoje é conhecido pelo Bixiga das cantinas italianas. A Barra Funda, do antigo Largo da Banana, berço do samba paulistano, é comumente retratada como o bairro dos operários europeus, mas nunca pela tradição afro-brasileira; a Liberdade, o pelourinho de São Paulo e o largo da forca, tem seu nome, fruto da resistência abolicionista, apenas relacionado à cultura de alguns povos asiáticos.
Luana Alves
Líder da bancada do PSOL-SP
Rede Emancipa
Movimento Social de Educação Popular
Silvio de Almeida
Instituto Luiz Gama
Chirley Pankará
Mandata Ativista
Abilio Ferreira
Instituto Tebas
Mestra Janja
Grupo Nzinga
Erika Hilton
Vereadora pelo PSOL SP
Milton Barbosa
Movimento Negro Unificado
Clarice Pankararu
S.O.S. Pankararu do Real Parque
Jairo Pereira
Aláfia
Baby Amorim
Ilú Obá De Min
Elaine Mineiro
Mandato Quilombo Periférico
Geledés
Instituto da Mulher Negra
MNU
Movimento Negro Unificado
IPEAFRO
Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
ABPN
Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as
MMNSP
Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
SaraUpovo
Cultura, educação e historiografia
Mestre Tião Carvalho
Grupo Cupuaçu
Mestre Dinho Nascimento
Instituto Vladimir Herzog
Coletivo Som Na Praça
Feminine H-Fi
Portal RAS
Associação Nacional do Reggae
Coletivo Cartografia Negra
ANATORG
Associação Nacional das Torcidas Organizadas
Programa Já regou suas plantas?
98,9 FM
O movimento "SP é Solo Preto e Indígena" surgiu da iniciativa da vereadora Luana Alves em propor o Projeto de Lei 47/2021, que busca ressignificar e/ou realocar toda homenagem feita a escravocratas e eugenistas na cidade de São Paulo. Este projeto de lei, para além da luta parlamentar, se propõe a ser o estímulo a um outro projeto de cidade. Que não só deixe de homenagear a história da escravidão mas que seja profundamente antirracista.
Pretendemos aqui potencializar as iniciativas já existentes e propor novas formas de organização e intervenção. Entendemos que o parlamento não foi criado para nós, não bastando a nossa luta na Câmara para que algo mude. O SP é Solo Preto e Indígena é, portanto, uma construção de diversos movimentos negros, comunidades indígenas, movimentos populares, grupos e coletivos de arte e cultura e pesquisadores empenhados em desnaturalizar a história contada apenas pela visão dos aristocratas e valorizar as histórias daqueles e daquelas que construíram essa cidade nas costas e a fazem funcionar diariamente.
Não estamos inventando a roda. A iniciativa de ressignificação de estátuas, monumentos e a alteração de nomes de ruas e avenidas que homenageiam algozes da escravidão e genocidas negros e indígenas é um movimento histórico e internacional. Em muitos a discussão vem à tona, como quando promoveu a derrubada a estátua de um traficante de escravos na Inglaterra em reação à morte de George Floyd nos Estados Unidos. Representa o direito à cidade, a desnaturalização da história contada pelos poderosos.
Não, não é possível apagar a história. Não se trata de fingir que esses algozes existiram. Se trata do direito à plena circulação espaços urbanos sem que sejamos constrangidos por brutais figuras históricas que impuseram a violência, a negação da humanidade de pessoas negras traficadas e escravizadas e arquiteteram um verdadeiro genocídio indígena. Se trata de contar também a história brutalmente apagada dos nossos ancestrais. Como questiona a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, qual o perigo de uma história única?
Em São Paulo, muitas iniciativas têm como objetivo exigir justiça racial neste solo, como o PL 404/2020 da companheira Erica Malunguinho a nível estadual, o movimento Zumbi resiste que pretende alterar o nome da Rua Jorge Velho, e tantas outras ações frutos da mobilização de diversos coletivos em diversos territórios. Com o Projeto de Lei 47/2021 - chamado por nós de "PL SP é Solo Preto e indígena" - pretendemos que surjam muitas outras iniciativas, não só no parlamento, mas também nas ruas. Sob a bandeira de que SP é Solo Preto e Indígena pensaremos e construiremos uma nova cidade.
Tem um provérbio africano que diz que enquanto os leões não contarem suas próprias histórias, a história das caçadas continuarão glorificando o caçador. Agora nós, que somos maioria do povo brasileiro, queremos contar a nossa história.